Fazia verões terríveis e o forte mormaço provocava um calor de 40 graus. Ainda assim, uma multidão tomou conta de todo o trecho que liga a Igreja da Conceição da Praia ao Bonfim, sem se importar com as conseqüências. Em meio a esta gente anônima passaram os pré-candidatos à prefeitura de Salvador e outros políticos de diversos matizes ideológicos. Indiferente, anestesiada ou sufocada pelo aparato das agremiações partidárias, a população pouco se manifestou com aplausos entusiastas ou vaias estrepitosas. Contudo, ainda assim, uma leitura semiótica da avenida permitiu alguns entendimentos do panorama político que está por se formar. No PT, o deputado Nelson Pelegrino, cada vez mais distante do prefeito João Henrique (PMDB), colou na figura do governador Jaques Wagner de olho no futuro. Solícito e esboçando um ar de contentamento, o parlamentar falou da festa em louvor ao Senhor do Bonfim, mas não deixou de opinar sobre política e a formação da Frente Alternativa, sua nova proposta para convencer o partido a entrar na disputa pela prefeitura de Salvador. Um impresso identificado com o nome do parlamentar foi distribuído por militantes petistas durante todo o cortejo. Na mensagem, uma associação direta ao slogan do governo Wagner: “Se depender da Fé em Senhor do Bonfim, Salvador será de todos nós!”. Qualquer leitor mais atento percebia que a mensagem, também associada à festa do Bonfim, tinta tintas e cores que combinavam com a movimentação que Pelegrino vem engendrando nos bastidores a fim de criar condições para construir a sua candidatura ao Palácio Thomé de Souza. E o petista não se furtou ao ser perguntado sobre a sua possível candidatura. “Estamos aí, construindo a Frente Alternativa”, respondeu, esforçando-se para superar dezenas de seguranças do governador. No meio da avenida, Marcelino Galo, um dos comandantes do partido e simpático à tese de candidatura própria, também defendeu a formação da Frente Alternativa, mas disse não existir apenas a candidatura de Pelegrino. “A sucessão deve ser discutida por todas as forças. E já há uma tendência forte do Coletivo Dois de Julho, do deputado Luiz Alberto, sair da prefeitura”, disse. Na leitura das declarações de Galo, uma completa sintonia com as de Pelegrino, as duas cada vez mais distantes do prefeito João Henrique. “Não tem clima para o PT continuar no governo João Henrique", reforçou
(Por Evandro Matos / Tribuna da Bahia)
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