quarta-feira, 17 de junho de 2009

São João de Cruz das Almas IV: Espadas

Os conceitos são termos complexos que exigem uma análise aprofundada para expressar seu significado. Os termos possuem múltiplos significados, dependendo da época e de quem os usam. O termo cultura possui inúmeras definições, tal como tradição e memória. Assim, o primeiro ponto a destacar no presente texto é o seu objetivo: esclarecer os conceitos de cultura, tradição e memória.

A história da pirotecnia provavelmente iniciou-se na Ásia, já na Pré-História. Mas, seguramente, podemos afirmar que a pólvora foi fabricada pela primeira vez, por acaso, na China há cerca de 2000 anos, descoberta no Século IX pelos Chineses a pólvora foi levada para a Europa por Marco Pólo e aí foi o começo da explosão de acontecimentos.

Já a tradição da queima de espadas em Cruz das Almas é secular, porém não existe ao certo uma convicção, há controvérsias acerca do assunto. Sabe-se, no entanto, que os buscapés deram origem às espadas. As espadas são um artefato de fogo de artifício que enquanto queima vai girando e serpenteando pelo chão e soltando faíscas.

A forma artesanal dá origem às espadas. Verdadeiramente o fabrico consiste em muito trabalho. Diversos produtos são usados durante a fabricação, dentre os quais: enxofre, carvão, salitre (nitrato de potássio) e limalha que são misturados, depois pilados e peneirados dando origem à pólvora.

A cera de abelha, o óleo de coco, a parafina e o breu são adicionados e vão ao fogo em altas temperaturas dando origem ao cerol, usados para encerar os barbantes que enrola o bambu. Os bambus são cozidos, posteriormente são separados por bitolas, serrados em variados pedaços e colados ao sol para secar, em seguida são enrolados, na maioria das vezes manualmente, com barbantes encerados. O enrolamento do bambu consiste no início juntos uns cinco a seis centímetros, depois no corpo da espada um espaçamento de uma helicoidal para outra até o fim, porém com espaço helicoidal de um centímetro, em seguida são serrados novamente em pedaços de mais ou menos vinte a vinte e cinco centímetros.

A argila (barro) é pilado e peneirado, após socado dentro do bambu (nas espadas), o barro compacta as duas camadas entre a pólvora que fica no meio das espadas. Usa-se para socar o barro e a pólvora um ferro e um macete de madeira, as camadas recebem centenas de socadas.

Em seguida as espadas são perfuradas milimetricamente, ponto crucial, pois este escape ou orifício é o que dá pressão nas espadas para rabear, fator determinante, se vai explodir ou subir, estourar ou queimar normalmente.

Depois de furadas, as espadas recebem a escova, a boca de cor e são enfeitadas. Este ciclo dura em média sessenta dias.

Os riscos de acidentes começam justamente no manuseio da pólvora que, na maioria das vezes, são fabricadas em fundos de quintais sem as mínimas condições de segurança. Outro fator de perigo é a bitola, o tamanho e a largura do bambu, pois se muito grosso e grande com certeza irá causar danos.

As espadas não foram feitas pelos antigos fogueteiros para machucar ninguém, no entanto com o passar dos anos a coisa foi perdendo o controle e realmente ficando muito perigoso. Hoje existem pessoas que fabricam espadas muito violentas, mas a maior parte dos espadeiros são conscientes e fazem as espadas para brincar e vender, pois o comércio das espadas movimenta economia de muitas famílias em Cruz das Almas. Mesmo as espadas mais fracas podem queimar, contudo as espadas mais fortes causam prejuízos materiais e a humanidade.

É prudente evitar associação entre as espadas e o álcool, pois se torna uma mistura perigosíssima.

O São João de Cruz das Almas é composto de vários eventos, dentre eles podemos destacar o arraiá do Parque Sumaúma e neste ano a novidade da Praça Multiuso. Além disso, existe uma cultura muito interessante, mas pouco divulgada, que é a maioria das casas abertas para receber os visitantes com iguarias, e, para quem gosta, muito licor.

A queima de espadas se dá em ruas com tradição que deveriam ser divulgadas também pelo poder público e na Praça do Senador Temístocles a partir das 14:00h do dia 24 de junho, onde acontece a grande concentração de espadeiros. No circuito da festa é proibida a queima de espadas, outros locais, do mesmo modo, é expressamente proibido tocar espadas, estes locais são delineados pela instalação de faixas delimitando os locais onde é proibido.

O Forró do Bosque acontece na zona rural da cidade onde não se queima espadas, a zona rural é outro atrativo pra quem não gosta de espadas.

Se for tocar espadas proteja-se com luvas, jeans e capacete, procure alguém experiente para lhe acompanhar e use fogos de qualidade. Se for assistir a queima de espadas procure os chamados camarotes, locais com estrutura de proteção aos expectadores.

Vale salientar que nunca houve uma regulamentação, o que acarreta, e muito, o aumento significativo do empirismo, desde a fabricação até a queima dos fogos, no entanto, a ausência de um conjunto de normas. Como exemplo: a ausência de criação de uma associação ou cooperativa para reger desde o fabrico, a venda da matéria-prima e a queima faz com que a tradição definhe a cada ano. Os altos preços da matéria-prima, a marginalização imposta pela grande mídia, alguns espadeiros inconscientes e a falta de apoio dos poderes públicos são fatores determinantes para o fim da tradição em Cruz das Almas.

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