Comove e encanta-me pensar que o tempo dinamiza a história, transformando-a quase sempre numa verdade controversa. Antes, uma propriedade particular que, já não suportando os próprios limites expansionistas, torna-se um povoado que, por sua vez, torna-se distrito e, por fim, alcança status de cidade. Seja como for: fazenda, arraial, centro urbano, esta cidade guarda na sua memória pré e pós-emancipatória o legado da luta centenária de um povo em nome da própria sobrevivência. Gostaria, portanto, neste breve tempo, de refletir junto aos senhores e senhoras aqui presentes sobre as condições de existência desta terra. Há, para as fazendas, os proprietários, os donos, noutros tempos chamados de coronéis, para o arraial há o juiz de paz, para o distrito há o correspondente nomeado. E para a cidade, o que há, senão ela própria representada nos corpos e espíritos do seu povo que cresce e faz crescer naturalmente, que transforma, que escolhe e sente os impactos do seu desejo? Noutros termos, como poderíamos pensar esta cidade do ponto de vista geopolítico, social, cultural, econômico, religioso, filosófico e de costumes, conferindo-lhe, assim, a merecida deferência? Quem de nós teria subsídios suficientes para definir de fato e de direito a saga destes 112 anos de autonomia bem-criados, dos anteriores e dos anos que ainda virão? Ora, se a composição da maioria dos espaços é determinada pela presença do dominador e do dominado, do explorador e do explorado, do patrão e proletário, pergunto-me então se o mesmo tempo que a tudo dinamiza é, também capaz de inverter os lugares e a ordem das coisas permitindo mandar a quem é mandado e fazendo obedecer aquele que sempre ordenou? Ainda rasgando a carne à navalha, pergunto-me, de tão profundo amor que tenho a Cruz das Almas e desejando saber de vós a resposta: Para quem é esta cidade?, de quem é esta cidade?, o que quer esta cidade?
terça-feira, 28 de julho de 2009
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